COMUNICAÇÃO : um avenida de duas mãos
Em qualquer atividade eqüestre, sobretudo em rédeas e adestramento, por seu nível de exigência, de precisão, obediência e complexidade de execução, é fundamental uma comunicação efetiva e correta entre o cavalo e seu cavaleiro. Porém essa comunicação se vê limitada pelo enfoque humano do conceito, pois estamos acostumados a julgar o mundo de acordo com o nosso ponto de vista e, de fato, geralmente não se considera que o cavalo possa ter o seu próprio universo. Sua forma de pensar e de compreender os fenômenos do mundo exterior é muito diferente da maneira do homem, pois suas necessidades biológicas também o são.
Isto faz com que falemos idiomas distintos e que a comunicação entre os dois seja muito difícil, a tal ponto que quando nós nos comunicamos com o cavalo, o que fazemos na realidade é somente lhe ditar ordens que confundimos com diálogo. A maioria das vezes o animal nem sequer as entende. Depois de muito trabalho, apesar de nossa incapacidade de nos fazermos compreender, depois de centenas de repetições e de outras tantas horas de trabalho, ele consegue associar. Tudo isso como “adivinhando”. E relaciona suas ações com os estímulos que recebe geralmente nada gentis.
É então que o consideramos tê-lo adestrado. Com muita freqüência acreditamos que estamos nos comunicando com o cavalo, quando geralmente o que fazemos é atrofiar sua habilidade para avaliar estímulos contraditórios e assim anular sua capacidade de tomar decisões.
Não obstante, a comunicação em “seu próprio idioma” é altamente eficiente e sua capacidade de compreender o que se pede a ele somente tem comparação com a vontade que empenha em satisfazer-nos.
É surpreendente que não se necessite mais de três repetições – menos de cinco minutos para que se torne clara nossa solicitação e se inicie o processo de execução, que neste caso será eficiente, decidida, oportuna e precisa, em poucas palavras, do mais alto rendimento.
Para mim, não existe nenhuma contradição. A diferença se faz no ponto de vista do observador, que julga de acordo com o resultado de sua tarefa.
Freqüentemente nossos sinais não são específicos, resultam pouco claros ou ainda, contraditórios. De fato, a natureza equina – substancialmente diferente à nossa – que levamos entre nossas pernas, é uma máquina altamente eficiente de perceber estímulos do meio, tanto que nossa propria receptividade se torna muito pequena e não somos conscientes dos inúmeros sinais que emitimos involuntariamente e que têm que ser ignorados pelo cavalo por carecer de significado.
É demasiado pedir a nossos cavalos que, além de manterem-se obedientes a sinais julgados antropocentricamente, ignorem não só os que recebem além de nossas ações, senão também os que realizamos sem ter a intenção de faze-lo. Estes sinais falsos confundem o animal até que ele aprenda a ignorá-los. Na realidade é um processo de insensibilização involuntário que faz indolente ou distraído o cavalo, que depois ignora também os sinais que tem um propósito específico.
Com essa má comunicação tendemos, como muitas outras coisas que ocorrem sem que nos demos conta, a reduzir o enorme acervo de sensações que o cavalo tem à sua disposição de maneira natural.
É um grande desperdício e portanto um erro, não aproveitar essa grande capacidade de captura de sinais, simplesmente porque não sabemos mais sobre a natureza do cavalo, de suas capacidades receptivas e suas limitações de abstração, porque não sabemos de que maneira o cavalo aprende e retém as informações, porque não sabemos que não é necessário mais que tres repetições para que um cavalo entenda completamente um exercício.
Poucos ginetes têm completamente clara a importância de não dizer nada quando se trata da comunicação com o cavalo, pois para este,, o melhor sinal é receber nenhum, pois significa que fez o correto.
Antes dos afagos, carícias ou cenouras, massagens e ótima alimentação, o cancelamento de um estímulo, é a primeira e mais importante manifestação do reforço positivo e é a melhor mensagem que podemos dar à nossa montaria quando esta executou a tarefa de forma acertada.
A execução correta e o melhor esforço do cavalo em seu desempenho – que finalmente distingue ganhadores de perdedores - , estarão regidas pela busca da suspensão das ordens. A vontade que o animal emprega, entendida não só como a ausência de resistências ou manifestações indesejáveis, mas também como o esforço extra para saltar mais alto, correr mais rápido ou executar com mais precisão uma manobra determinada, estará em função direta da clareza que ele tem de que depois do cumprimento correto, encontrará sua recompense, que é o cancelamento do uso das ajudas, rédeas ou a tensão corporal, que é precisamente: não dizer nada.
Costumo dizer que para um treinador medíocre, o cavalo sempre está devendo para ele, que o cobra sempre cada vez mais em treinamentos fatigantes, monótonos, com infinitas repetições sem sentido para o cavalo, pois o spin, o salto ou o tempo atingido na raia em uma corrida sempre deveriam estar melhores. Esse exagero só pode resultar na diminuição da qualidade da execução da tarefa solicitada, seja por fadiga, dor ou confusão ( ou o que é mais freqüente, um somatório de tudo isso).
Já o treinador consciente, nem sempre o mais habilidoso, porém aquele mais sensível e conhecedor os limites e potencialidades do seu cavalo, contenta-se com muito menos, cessando o exercício ao menor vislumbre de que sua montada entendeu e emprenhou-se. Esse sabe que para conquistara uma performance ideal, é necessário um cavalo não apenas afinado técnicamente, mas também equilibrado físicamente e moralmente.
Muitas vezes entristeço ao ver treinamentos nas mais diversas modalidades indo na contramão do que é certo, saudável e produtivo para o cavalo. Treinamentos abusivos, extenuantes, aborrecidos e executados muito mais em função de inseguranças psicológicas do treinador em véspera de competições. Esforços exagerados que só fazem com que o cavalo execute cada vez com menos qualidade suas figures, levando o treinador, que julga como na maioria das vezes, que o erro é do animal, a repetir mais e mais, produzindo um círculo vícioso extremamente nocivo à vida atlética deste animal. Sim, saem vencedores mesmo com esse tipo de treinamento , mas é fruto da generosidade equine, apesar do treinador, e não por causa dele! E isso tem um preço, que sera cobrado logo ali na esquina, pela diminuição da performance e da vida atlética de um cavalo.
Está mais do que na hora dos treinadores aprenderem a se comunicar de forma eficiente, para o bem dos cavalos e a evolução dos esportes equestres no Brasil.
Em qualquer atividade eqüestre, sobretudo em rédeas e adestramento, por seu nível de exigência, de precisão, obediência e complexidade de execução, é fundamental uma comunicação efetiva e correta entre o cavalo e seu cavaleiro. Porém essa comunicação se vê limitada pelo enfoque humano do conceito, pois estamos acostumados a julgar o mundo de acordo com o nosso ponto de vista e, de fato, geralmente não se considera que o cavalo possa ter o seu próprio universo. Sua forma de pensar e de compreender os fenômenos do mundo exterior é muito diferente da maneira do homem, pois suas necessidades biológicas também o são.
Isto faz com que falemos idiomas distintos e que a comunicação entre os dois seja muito difícil, a tal ponto que quando nós nos comunicamos com o cavalo, o que fazemos na realidade é somente lhe ditar ordens que confundimos com diálogo. A maioria das vezes o animal nem sequer as entende. Depois de muito trabalho, apesar de nossa incapacidade de nos fazermos compreender, depois de centenas de repetições e de outras tantas horas de trabalho, ele consegue associar. Tudo isso como “adivinhando”. E relaciona suas ações com os estímulos que recebe geralmente nada gentis.
É então que o consideramos tê-lo adestrado. Com muita freqüência acreditamos que estamos nos comunicando com o cavalo, quando geralmente o que fazemos é atrofiar sua habilidade para avaliar estímulos contraditórios e assim anular sua capacidade de tomar decisões.
Não obstante, a comunicação em “seu próprio idioma” é altamente eficiente e sua capacidade de compreender o que se pede a ele somente tem comparação com a vontade que empenha em satisfazer-nos.
É surpreendente que não se necessite mais de três repetições – menos de cinco minutos para que se torne clara nossa solicitação e se inicie o processo de execução, que neste caso será eficiente, decidida, oportuna e precisa, em poucas palavras, do mais alto rendimento.
Para mim, não existe nenhuma contradição. A diferença se faz no ponto de vista do observador, que julga de acordo com o resultado de sua tarefa.
Freqüentemente nossos sinais não são específicos, resultam pouco claros ou ainda, contraditórios. De fato, a natureza equina – substancialmente diferente à nossa – que levamos entre nossas pernas, é uma máquina altamente eficiente de perceber estímulos do meio, tanto que nossa propria receptividade se torna muito pequena e não somos conscientes dos inúmeros sinais que emitimos involuntariamente e que têm que ser ignorados pelo cavalo por carecer de significado.
É demasiado pedir a nossos cavalos que, além de manterem-se obedientes a sinais julgados antropocentricamente, ignorem não só os que recebem além de nossas ações, senão também os que realizamos sem ter a intenção de faze-lo. Estes sinais falsos confundem o animal até que ele aprenda a ignorá-los. Na realidade é um processo de insensibilização involuntário que faz indolente ou distraído o cavalo, que depois ignora também os sinais que tem um propósito específico.
Com essa má comunicação tendemos, como muitas outras coisas que ocorrem sem que nos demos conta, a reduzir o enorme acervo de sensações que o cavalo tem à sua disposição de maneira natural.
É um grande desperdício e portanto um erro, não aproveitar essa grande capacidade de captura de sinais, simplesmente porque não sabemos mais sobre a natureza do cavalo, de suas capacidades receptivas e suas limitações de abstração, porque não sabemos de que maneira o cavalo aprende e retém as informações, porque não sabemos que não é necessário mais que tres repetições para que um cavalo entenda completamente um exercício.
Poucos ginetes têm completamente clara a importância de não dizer nada quando se trata da comunicação com o cavalo, pois para este,, o melhor sinal é receber nenhum, pois significa que fez o correto.
Antes dos afagos, carícias ou cenouras, massagens e ótima alimentação, o cancelamento de um estímulo, é a primeira e mais importante manifestação do reforço positivo e é a melhor mensagem que podemos dar à nossa montaria quando esta executou a tarefa de forma acertada.
A execução correta e o melhor esforço do cavalo em seu desempenho – que finalmente distingue ganhadores de perdedores - , estarão regidas pela busca da suspensão das ordens. A vontade que o animal emprega, entendida não só como a ausência de resistências ou manifestações indesejáveis, mas também como o esforço extra para saltar mais alto, correr mais rápido ou executar com mais precisão uma manobra determinada, estará em função direta da clareza que ele tem de que depois do cumprimento correto, encontrará sua recompense, que é o cancelamento do uso das ajudas, rédeas ou a tensão corporal, que é precisamente: não dizer nada.
Costumo dizer que para um treinador medíocre, o cavalo sempre está devendo para ele, que o cobra sempre cada vez mais em treinamentos fatigantes, monótonos, com infinitas repetições sem sentido para o cavalo, pois o spin, o salto ou o tempo atingido na raia em uma corrida sempre deveriam estar melhores. Esse exagero só pode resultar na diminuição da qualidade da execução da tarefa solicitada, seja por fadiga, dor ou confusão ( ou o que é mais freqüente, um somatório de tudo isso).
Já o treinador consciente, nem sempre o mais habilidoso, porém aquele mais sensível e conhecedor os limites e potencialidades do seu cavalo, contenta-se com muito menos, cessando o exercício ao menor vislumbre de que sua montada entendeu e emprenhou-se. Esse sabe que para conquistara uma performance ideal, é necessário um cavalo não apenas afinado técnicamente, mas também equilibrado físicamente e moralmente.
Muitas vezes entristeço ao ver treinamentos nas mais diversas modalidades indo na contramão do que é certo, saudável e produtivo para o cavalo. Treinamentos abusivos, extenuantes, aborrecidos e executados muito mais em função de inseguranças psicológicas do treinador em véspera de competições. Esforços exagerados que só fazem com que o cavalo execute cada vez com menos qualidade suas figures, levando o treinador, que julga como na maioria das vezes, que o erro é do animal, a repetir mais e mais, produzindo um círculo vícioso extremamente nocivo à vida atlética deste animal. Sim, saem vencedores mesmo com esse tipo de treinamento , mas é fruto da generosidade equine, apesar do treinador, e não por causa dele! E isso tem um preço, que sera cobrado logo ali na esquina, pela diminuição da performance e da vida atlética de um cavalo.
Está mais do que na hora dos treinadores aprenderem a se comunicar de forma eficiente, para o bem dos cavalos e a evolução dos esportes equestres no Brasil.
Inspirado em texto de Chico Ramirez, El señor de los caballos
Um comentário:
Profundo, sensível e esclarecedor!
O texto é absolutamente primoroso!
Valeu, Denise! Assim a gente vai aprendendo um pouquinho.
J.
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