sexta-feira, junho 03, 2011

IMPLACABILIDADE (não é sobre o DETRAN!)

To de cama....com os olhos doendo. Nahhhh não é conjuntivite não! Eu machuquei os zóinho foi num concurso de salto que fui ontem... nem colírio tá dando conta.

O concurso, muito chique como sempre, com roupas vipérrimas, material de primeira, cavaleiros elegantes, cavalos importados. Estava com muita saudade do rebuliço do qual fiz parte durante uma época importante da minha vida e que sinto falta. I miss a competição, a adrenalina, a superação, até do nervosismo do padock.

Fiquei vendo o pessoal aquecer seus cavalos para a prova de 1.30m... Prova desta altura, para vocês terem uma idéia, não é para qualquer matungo, homem ou cavalo saltar. Até é possível, um cara matungo com um cavalo bom ou um cavalo meio matungo com um cara muito bom conseguirem sair vivos de um percurso desses, principalmente quando é indoor (em picadeiro coberto, seus colonos!), que é mais exigente normalmente pelas dimensões reduzidas da pista, mas cavalo matungo e cara abombado, pode ser sinal de tragédia a vista...

Voltando ao aquecimento, me chama a atenção um cavaleiro auxiliado por seu super escudeiro, monta recebendo pezinho, ou melhor, um joelhinho... senta tão delicadamente na sela que pensei...nossa que beleza...uma suavidade de bailarino clássico! Parecia um pas de deux , o tratador o elevando para pousá-lo com delicadeza e muita classe na sela. Claro que o moço cuida bem do seu traseiro pensei eu, afinal, ganha dinheiro com ele não é mesmo? Ri sozinha da minha cabeça.  Já ao lado, um troglodita, bruto barbaridade, recebe também um joelhinho, dá uma bundada na sela, se sacoleja todo prá se ajeitar. Fico observado o coitado do seu pingo (importado of course...), desconfortável, recebendo esses empurrões e solavancos no seu lombo como início da longa jornada de trabalho, da maneira resignada comum a muitos cavalos. Esses dois últimos, diga-se de passagem, fazem parte do grupo “cavalo muito bão, cavaleiro ruim demais da conta”. Pena que esses cavaleiros não cuidem tão bem das suas montadas como cuidam das suas próprias bundas...com certeza teriamos padrões mais elevados no nosso hipismo.
Mas voltando à dupla cavalo/cavaleiro não matungos. Eles começaram a aquecer. Passinho, trotezinho... um capricho...um charme... Partida ao galope... perfect!  Muito bonitos tecnicamente, uma calma só. Então, a égua se assusta levemente, nada demais, com uma placa ou caixa de som quando passa ao lado dela...dá um pulinho para o lado e um cabecear com uma raboneada de leve irritação...na volta seguinte, mesma coisa. O cavaleiro, que conheço de outros carnavais e que não era dos mais pacientes na minha época, continua calmo, segue concentrado. Pensei com orgulho, que beleza... evolução, progresso! Há vida inteligente sobre a sela de salto! Só mais duas voltas e ela passará a entender pro resto da vida que caixas de som não são perigosas e não ficará mais impressionada. Na verdade, ela apenas dava uma diminuída para prestar atenção na coisa, nothing else. Diminuía assim como tenho a certeza que seu cavaleiro diminui e olha com atenção ao atravessar uma rua movimentada para não ser atropelado. Ai  o tempo muda, ai que dó! O cavaleiro bão não agüentou dar mais a volta seguinte com ela olhando para o objeto que a incomodava resolveu ajudá-la a perder o medo, e enfiou-lhe as esporas e agarrou-lhe da boca dando lhe umas pernadas, para passar em correria pelo local em questão. Fez isso por umas 3 voltas. Todas as vezes que ela passava pela caixa de som, lá vinha a esporada e uma correria para a frente, para resolver o problema (que a meu ver estava longe de ser um problema!); pronto...perdeu a chance....azar da égua, que de agora em diante, sempre que cruzar por uma caixa como aquela, por um instante se perguntará ... será que essa caixa de som é que nem aquela? Que fazia meu cavaleiro pirar e me cravar as esporas? É preciso eu ter cuidado! Isso acontecerá mesmo que ela nunca mais na vida (difícil) pegue um parceiro de pavio com duração de 3 voltas apenas.

Final do causo? Ela ficou mais nervosa do que estava antes, e depois de umas 5 voltas, se resignou e resolveu ter mais medo da reação do cavaleiro do que do objeto. 

O problema maior para mim nisso tudo é que em função da atitude resignada desse bicho, o cavaleiro jura que foi a ação dele é que resolveu o causo, e não apesar dela. E isso causa uma confusão e um atraso absurdo na compreensão da mente eqüina pelos pilotos, da evolução das técnicas de trabalho com os cavalos.

Ai que dor me dá ver isso...cada vez fica mais complicado para mim olhar cenas de pura ignorância, analfabetismo sobre a natureza eqüina, uma cegueira absurda dos cavaleiros. Me estragou uma noite que estava tão boa. Mas é como eu estar olhando sob lentes diferentes da grande maioria ali. Lentes que eu ganhei, busquei e mereci, e que antes de usá-las, não enxergava dessa forma também! O cavaleiro está cego! Toma a cisma da égua como pessoal, teimosia, desobediência. Irrita-se e desce o cacete. Não é isso! Caraleo! É medo! Apenas MEDO! Só isso! Ninguém resolve medo apanhando! Pode superar, mas o medo fica ali, esperando, uma hora ele aparece e cobra a sua dívida.

Bem que os cavalos poderiam ser um pouco menos generosos né? Cobrar mais e serem menos cobrados. Afinal, os cavalos evoluíram ao longo das eras em função da implacabilidade (UIA!) de seus predadores....quem sabe se os homens fossem tão exigidos pelos cavalos como é o inverso, se puxariam mais não é? Porque é como eu digo... não há treinadores ou tratadores de leões ou de cobras ruins...estão mortos né mez?

Santa injustiça Batman.

Um comentário:

causidicogremis disse...

Mas que tal! Esta história recebi pessoalmente, que "previlegiamento". Agora com a fama... Denise Bicca é Perfil no encarte Donna. Parabéns de novo!!! Parabéns pelo teu trabalho e PAIXÃO.

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